André
Parreira
Baleia Azul é o assunto do momento. Os pais estão, e com razão,
apavorados com esta novidade que parecia impossível. Um jogo que chega pelas
redes sociais, comandado por sabe-se lá quem e que tem como objetivo realizar
uma tragédia familiar.
Após tragédias como as que já aconteceram com a morte de
adolescentes no jogo, muito está se falando na questão de relacionamento entre
pais e filhos, na ausência dos pais, no pouco e supérfluo diálogo, na falta de
referência para os filhos e em tantas outras deficiências no convívio familiar.
Entre tantos pontos agora destacados, gostaria de lembrar duas
coisas. A primeira é que o maldito jogo chega aos adolescentes através de um
dispositivo com Facebook e Whats App. E a segunda é que o adolescente precisa
acessar a rede social de madrugada para conhecer as instruções do jogo. Essas
duas coisas mostram que os pais tem sua parcela de culpa, mesmo que seja por
omissão ou por não saberem dizer não.
Vou utilizar a polêmica do jogo como Cavalo de Tróia para trazer
outros questionamentos aos senhores pais. Sabemos que a tecnologia tem
benefícios e, entre eles, ajuda no desenvolvimento dos adolescentes. Mas isto
não quer dizer que os adolescentes precisam e podem viver imersos na tecnologia
como se fossem adultos de consciência formada. Aliás, há muitos adultos que
voltaram a ser crianças diante de um mágico celular com Whats App e Facebook.
Há uns 10 anos aprendi algo com um cidadão norte-americano,
diretor de uma empresa que vende tecnologia para a Educação. Estando nos EUA, a
meca da tecnologia e ainda mais, vendendo equipamentos de tecnologia, me chamou
a atenção saber que em sua casa havia somente um computador para o filho de 14
anos utilizar, com horários controlados e na sala de jantar, pois todos podiam
monitorar o que o adolescente fazia.
Gostei da ideia. Nossa casa precisa ter condições para que os
adolescentes acompanhem a evolução do mundo, mas tudo isto pode ser de maneira
dosada e monitorada. Isso não é novidade e não se refere somente ao computador.
Com a popularização da TV a partir da década de 80, muitas famílias passaram a
colocar televisores nos quartos, abrindo uma infinidade de coisas boas e ruins
(estou convicto que mais ruins que boas) para que os adolescentes, e também os
pais, façam do quarto sua morada e um território sem lei. Quantas pessoas de
todas as idades já entravam madrugada afora dependentes da TV, que depois foi
incrementada pelo video-cassete (você se lembra disso?), pelo vídeo game, depois
pelo DVD Player e agora dependentes do computador, tablet e celular.
Há alguns anos se fala do perigo da pedofilia que, em geral,
chegava até os adolescentes pelas salas de bate papo (chat) e agora foram
substituídas pelas comunidades virtuais onde as mais notáveis são o Facebook e
o Whats App. Além do bate papo, chegam os desafios como essa Baleia Azul que
bem podia ser chamada de Orca, a Baleia Assassina.
Este não é o único problema. Há outros menos graves, mas também
muito nocivos à formação dos adolescentes. Pense na quantidade de imagens de
nudez e vídeos de sexo explicito que circulam nestes grupos de Whats App. Há
pouco tempo tomei conhecimento que em um desses grupos de adolescentes do
Ensino Fundamental de uma escola circulava um audio de conversas e gemidos,
gravados de forma escondida no encontro de um casal de alunos do Ensino Médio
que se escondia num banheiro da escola durante uma festa. Dá pra imaginar o
estrago que coisas assim, que não são esporádicas mas sim frequentes, vão
fazendo em uma consciência em formação?
Não, a culpa não é unicamente da Baleia. Há muita coisa fora de
controle na vida familiar. Fico me questionando que sentido faz um adolescente
(e pior, às vezes crianças) receber de seus pais um celular com internet? Se
comunicar com os pais? Com os colegas? Não, isso não é indispensável. Se o
motivo for realmente se comunicar, um telefone celular simples, sem acesso à
Internet funciona muito bem. E que sentido faz colocar um computador no quarto
do filho? Ou deixar um tablet de livre uso?
Se um adolescente acorda às 4h20 para receber instruções é porque
tudo isto está à sua disposição. Se essa Baleia quiser conversar com meus
filhos adolescentes, terá que ligar para nosso telefone fixo de madrugada, pois
lá em casa eles não têm celular com internet (embora usem o nosso de vez em
quando), o tablet fica guardado conosco e o computador fica na copa da casa.
Além disso, há um software que monitora toda a rede da casa com relatórios de
todas as páginas visitadas e bloqueia o acesso em certos horários. E garanto
que eles não são infelizes por isso, mas estão sendo preservados.
Tecnologia sim, é claro. É fruto da inteligência, dom de Deus. Mas
escravidão não! Se você acha que seu filho será infeliz por não ter acesso ao
computador, tablet e celular da mesma forma que seus colegas têm, é hora de
rever seu itinerário educacional. Talvez sua presença ao lado dele possa
suprimir a ausência da tecnologia.
André
Parreira
Professor de Física e consultor em Tecnologia Educacional.
Casado, pai de 7 filhos é também escritor de livros sobre matrimônio e família
e membro da Assessoria Pedagógica da Comissão Nacional da Pastoral Familiar
Professor de Física e consultor em Tecnologia Educacional.
Casado, pai de 7 filhos é também escritor de livros sobre matrimônio e família
e membro da Assessoria Pedagógica da Comissão Nacional da Pastoral Familiar
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