O afastamento de
Deus, a falta de oração, a vaidade, a confiança demasiada nas próprias forças e
capacidades, a frieza e indiferença ao projeto de Deus. Tudo isso faz com que
nos percamos em nossos próprios planos e interesses e coloquemos pouco a pouco
a Palavra de Deus em segundo lugar. Aí servimos não mais ao Senhor, mas a nos
mesmos. Sem a referência da verdade de Deus, nos desfiguramos, desintegramos
nossa personalidade, quebramos a nossa integridade, desrespeitamos a nossa
dignidade, violamos a nossa própria consciência.
É preciso voltar à
comunhão com Deus, com humildade, pela entrega na oração, agradecendo pelos
dons e capacidades, bebendo da misericórdia divina, harmonizando o coração,
reequilibrando a razão interior para ser verdadeiro discípulo e missionário,
com a dignidade de filhos de Deus reluzente, com uma só face, na paz de quem
segue o Mestre que é o Caminho, Verdade e Vida. Peçamos perdão ao Senhor por
nos afastarmos da Sua Luz e nos enfraquecermos. Por nos distanciarmos da Sua
Força e nos enchermos de trevas e confusão. Por nos desintegrarmos, sem a Sua
verdade, enchendo-nos de mentiras e justificativas para nossas vaidades.
Quando nos fechamos
a Deus, perdemos a nossa referência ética, nos escravizamos ao nosso próprio
egoísmo e queremos virar o centro de tudo, relativizando os princípios morais,
conforme a nossa conveniência. Isto, é claro, nos afasta também dos outros.
Pois,sem vermos Deus como Pai, já não os vemos como irmãos, mas simplesmente
como "concorrentes" que devem ser derrotados. Ou por nos sentirmos
maiores ou melhores, os vemos apenas como peças manipuladas para o
aumento do nosso PODER, do nosso PRAZER ou nosso DINHEIRO.
Esta tríplice
idolatria já é acusada na III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano(
CELAM) em PUEBLA,em 1979. E a realidade de uma multidão de excluídos e da
indignidade da miséria de muitos lázaros no continente latino americano, com
enormes desigualdades sociais, já havia sido apontada na II Conferência em
MEDELLIN , EM 1968. Tudo fruto da ambição, da soberba, da falta de amor ao
próximo, pela falta de amor a Deus e de reconhecimento de sua vontade como
verdade da ética pessoal e social.
Também o
fechamento em si mesmo, nos torna insensíveis à cultura dos outros, nos achando
"superiores", na autoidolatria de nossa linguagem, nossas expressões
e valores, querendo impô-los aos irmãos. É o caso das discriminações culturais,
étnicas, por motivos físicos, sociais,etc... Menospreza-se o negro, o indígena,
o pobre, a pessoa com deficiência... E estamos, muitas vezes, bloqueados no
coração e na razão para a inculturação do Evangelho, ou seja, a evangelização a
partir das "sementes do Verbo" , das riquezas e valores próprios do
Bem de cada cultura, na autêntica promoção humana . Sobre isto nos fala a IV
Conferência de SANTO DOMINGO, em 1992. Na linha do discipulado missionário, a partir
de Cristo, modelo perfeito de amor e doação ao próximo,o qual deve provocar em
nossas comunidades uma verdadeira conversão pastoral, como apresenta a V
Conferência de APARECIDA, em 2007. Peçamos perdão ao Senhor e mostremos a
Ele que queremos voltar à unidade com os nossos irmãos, na solidariedade, no
amor fraterno que nos leva a uma autêntica opção preferencial pelos mais pobres
e o abandono de todas as vaidades e ambições. Queremos ser discípulos
missionários, despojados de toda ilusão de poder, de toda embriaguês dos
prazeres e de todo apego ao dinheiro. Queremos compreender os valores de cada
cultura,de cada irmão, com a humildade e a compaixão de Cristo, aproveitando de
cada realidade as sementes divinas espalhadas na Sabedoria da criação, livres
de toda soberba, preconceito ou sentimento de superioridade em relação aos
outros.
O pecado do homem de
virar as costas para Deus, criou desordem não só na consciência, na integridade
pessoal, não só na convivência social e relacionamento com o próximo, gerando
desigualdades e injustiças , mas também causou um desequilíbrio na sua própria
relação com a natureza. O ser humano,saindo da harmonia do Criador, perdeu
também o senso de respeito e integração com a casa natural. As agressões
cresceram à vegetação,às águas ,aos animais, ao ar, à camada de ozônio,aos
ecossistemas. Do egoísmo cego surge um galopante desmatamento , uma
inconsciente degradação do solo, queimadas, poluição volumosa, contaminando e comprometendo
os recursos hídricos, envenenando o are causando a maior incidência de raios
solares e o aquecimento global. Avança a caça irracional , a pesca predatória,
levando a extinção das espécies e a desorganização, o desequilíbrio ecológico.
È o pecado de quem olha só para o seu interesse e para o seu imediato lucro ou
vantagem, não se importando com os danos ao meio ambiente e consequentemente
aos seres humanos.
Todos estes vários
cenários estão indicados com profundidade e riqueza na Encíclica Social
do Papa Francisco , a LAUDATO SI, como em diversas campanhas da fraternidade da
CNBB , recordando e conscientizando que é preciso preservar o que é de todos,a
casa comum, a água, a terra, os biomas, especialmente a Amazônia... e no centro
da Ecologia , o ser humano, totalmente integrado a ela, os indígenas, as
populações ribeirinhas, os quilombolas,os pobres e miseráveis,os privados dos
bens naturais, sedentos e famintos, os excluídos do sistema capitalista
materialista , que devem ser resgatados e promovidos em sua dignidade de imagem
e semelhança de Deus, filhos do Criador,irmãos do Redentor, templos do Espírito
Santo.
È necessário criar
uma generalizada consciência de responsabilidade ecológica, como um ato de
conversão, de volta à sintonia com o Plano da criação no respeito à ordem
natural.Preservar a imensa riqueza da biodiversidade. Combater as agressões
diversas. Promover a educação ambiental, como valorização e defesa da vida e da
saúde de toda a comunidade social. Saber cuidar como o nosso irmão São
Francisco da irmã Natureza, como sagrado sinal da bondade e Graça do Deus-Amor.
È importante protegermos a
Amazônia grande reserva de vida da humanidade. Mas, também, devemos identificar
as "nossas amazônias" bem perto de nós, na nossa cidade e região, os
rios , as bacias, as matas, os impactos ambientais de empreendimentos
industriais, muitas vezes desastrosos, as campanhas que devemos fazer para
manter a casa comum com todo equilíbrio para a vida e saúde de todos. Peçamos
perdão ao Senhor pelas vezes em que nos omitimos na defesa da vida e da ordem
natural, causando assim um grande mal a tantos irmãos, permitindo que a morte
prevalecesse. Pelas vezes em que mesmo praticamos destruição ao meio ambiente
,colaborando com projetos irresponsáveis no sentido ecológico. Pelas vezes em
que nos esquecemos do ser humano ,não valorizando e protegendo a sua dignidade
e vida desde a concepção até a morte natural, não lutando por seus direitos e
integridade.
Queiramos a
conversão total, não só um ponto ou outro. Busquemos a libertação integral ,
até porque não se pode separar uma postura da outra.São uma trindade. É na
mudança da mentalidade e atitude fundante da estrutura pessoal que iremos
reformar e transformar o social , num espírito de comunhão e integração com
toda a natureza criada. No respeito ao Plano do Criador e seguindo o modelo do
Salvador ,no sopro do Espírito.
Pe Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça
Assessor Eclesiástico da Pastoral da Comunicação da Diocese
de Nova Friburgo
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