Realidade e ficção se encontram
Ricardo Gomes
Da
realidade restam vestígios. Prédios que a qualquer momento podem desaparecer.
Patrimônios importantes para a Baixada Campista, eternizados através da ficção.
Em Santo Amaro o prédio da antiga estação ferroviária pede socorro e a qualquer
momento pode desabar... Em Boa Vista o antigo sobrado, residência do General
Pinheiro Machado desapareceu restando apenas uma torre.
Locais
que inspiraram o escritor campista José Candido de Carvalho a escrever seu
romance O coronel e o lobisomem, com
duas versões para o cinema. A estação ferroviária recorda um tempo em que todo
transporte era através dos trilhos. E as histórias e estórias fantásticas
envolvendo o lendário lobisomem que das páginas da ficção esta presente no
imagético social do povo da baixada da égua. A baixada conhecia como Baixada da égua, é povoada de mitos,
personagens que povoam a memória coletiva de um povo marcado por contos e
contados.
Qual
a importância da preservação desses mitos, personagens fantásticos com suas
tramas? Como podemos entender um pouco desse legado para compreender a história
social desse povo marcado por momentos na história da terra campista? Afinal a
região teve sua história marcada pela presença beneditina de 370 anos. Uma
presença marcante, e com fatos interessantes que não podem ser esquecidos no
tempo.
Da
presença lendária do lobisomem, as estórias de um santo fujão. Sim, um santo
fujão. Cresci ouvindo a historia de um santo que aparecia debaixo de uma arvore...
Levado ao mosteiro de Mussurepe, residência dos monges que chegaram em 1648,
vindos do Rio de Janeiro... Eta canseira, no outro dia lá estava o santo. Alias
uma imagem em terracota cujo artista, Frei Agostinho de Jesus, provavelmente
tenha esculpido a conhecida imagem de Nossa Senhora Aparecida, encontrada nas
águas do Paraíba do Sul e aluno do famoso mestre Frei Agostinho da Piedade.
Ouvia
muito essa história do velho Amaro Matilde, e do sacristão e mestre de musica,
organeiro e compositor do conhecido Hino a Santo Amaro. E de tanto nos contarem
essa história que o santo se tornou uma das maiores devoções da cidade e
região. E lá esta a imagem do santinho fujão, venerada por uma multidão de
devotos. Uma fé que reúne tantas tradições religiosas de um povo que vive uma
intimidade com o santo... E caminham, choram e acreditam que o milagre
acontece, e olha que acontece mesmo.
Tem
ainda muitas histórias, mas vamos aguardar para um próximo capítulo e com um
texto em forma de crônica. Uma crônica do cotidiano com pinceladas na história,
mas sem desprezar as múltiplas estórias que o povo conta e canta... Contos e
contados de um cotidiano povoado de mitos e lendas, histórias fantásticas. As memórias,
o legado e o imagético social, coletivo e pessoal. Afinal, a Baixada Campista é
a terra de muitos lobisomens, que saem da ficção para quase se tornar
realidade. Eta povo criativo.
* Pesquisador de Cultura Popular
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