quinta-feira, 22 de março de 2018

Histórias fantásticas


A imagem pode conter: árvore, atividades ao ar livre e natureza

Realidade e ficção se encontram

Ricardo Gomes

Da realidade restam vestígios. Prédios que a qualquer momento podem desaparecer. Patrimônios importantes para a Baixada Campista, eternizados através da ficção. Em Santo Amaro o prédio da antiga estação ferroviária pede socorro e a qualquer momento pode desabar... Em Boa Vista o antigo sobrado, residência do General Pinheiro Machado desapareceu restando apenas uma torre.
Locais que inspiraram o escritor campista José Candido de Carvalho a escrever seu romance O coronel e o lobisomem, com duas versões para o cinema. A estação ferroviária recorda um tempo em que todo transporte era através dos trilhos. E as histórias e estórias fantásticas envolvendo o lendário lobisomem que das páginas da ficção esta presente no imagético social do povo da baixada da égua. A baixada conhecia como Baixada da égua, é povoada de mitos, personagens que povoam a memória coletiva de um povo marcado por contos e contados.
Qual a importância da preservação desses mitos, personagens fantásticos com suas tramas? Como podemos entender um pouco desse legado para compreender a história social desse povo marcado por momentos na história da terra campista? Afinal a região teve sua história marcada pela presença beneditina de 370 anos. Uma presença marcante, e com fatos interessantes que não podem ser esquecidos no tempo.
Da presença lendária do lobisomem, as estórias de um santo fujão. Sim, um santo fujão. Cresci ouvindo a historia de um santo que aparecia debaixo de uma arvore... Levado ao mosteiro de Mussurepe, residência dos monges que chegaram em 1648, vindos do Rio de Janeiro... Eta canseira, no outro dia lá estava o santo. Alias uma imagem em terracota cujo artista, Frei Agostinho de Jesus, provavelmente tenha esculpido a conhecida imagem de Nossa Senhora Aparecida, encontrada nas águas do Paraíba do Sul e aluno do famoso mestre Frei Agostinho da Piedade.
Ouvia muito essa história do velho Amaro Matilde, e do sacristão e mestre de musica, organeiro e compositor do conhecido Hino a Santo Amaro. E de tanto nos contarem essa história que o santo se tornou uma das maiores devoções da cidade e região. E lá esta a imagem do santinho fujão, venerada por uma multidão de devotos. Uma fé que reúne tantas tradições religiosas de um povo que vive uma intimidade com o santo... E caminham, choram e acreditam que o milagre acontece, e olha que acontece mesmo.
Tem ainda muitas histórias, mas vamos aguardar para um próximo capítulo e com um texto em forma de crônica. Uma crônica do cotidiano com pinceladas na história, mas sem desprezar as múltiplas estórias que o povo conta e canta... Contos e contados de um cotidiano povoado de mitos e lendas, histórias fantásticas. As memórias, o legado e o imagético social, coletivo e pessoal. Afinal, a Baixada Campista é a terra de muitos lobisomens, que saem da ficção para quase se tornar realidade. Eta povo criativo.

* Pesquisador de Cultura Popular

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