quinta-feira, 18 de abril de 2019

Festa São José de Leonissa - Itaocara

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Missa do Crisma lota Catedral de Campos

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O Bispo de Campos Dom Roberto Francisco presidiu na manhã desta quinta feira na Catedral Basílica Menor do Santíssimo Salvador, em Campos a Missa do Crisma e da renovação das promessas dos padres. Nesta  celebração Dom Roberto Francisco abençoou os óleos usados na administração dos sacramentos e entregues a todas paróquias e comunidades religiosas. A noite Dom Roberto Francisco celebrou a Missa do Lava Pés. Padres, Diáconos e Fiéis de todas as paróquias das cidades do Norte e Noroeste lotaram a catedral.

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A Missa do Crisma na parte da manhã em que, profeticamente, celebra os sacramentos onde ocorre a sagrada unção: Batismo, Crisma, Unção dos Enfermos e Ordem.
Na Missa vespertina já temos o início do Tríduo pascal. Celebram-se os mistérios da última Ceia: o novo mandamento, pelo lava-pés, a Eucaristia e o sacerdócio ministerial. Tudo isso, pela entrega de Jesus para ser crucificado, pela entrega de Jesus em cada Santa Missa, pela entrega dos cristãos pelo amor fraterno. 
- Missa abre as calibrações do Tríduo Pascal. A noite acontece a celebração da Missa do Lava Pés que recorda o gesto de Jesus que se faz escravo. Um Deus que por amor se esvazia da condição divina para assumir a natureza humana, exceto no pecado e para resgatar o gênero humano a essa filiação divina. – recorda Ricardo Gomes
Na opinião do Pe. Maxiliano Barreto a celebração da Missa do Crisma tem um papel fundamental de celebração da unidade dos padres com o Bispo Diocesano. E nesta mesma cerimônia as paróquias recebem os santos óleos usados durante o ano na celebração dos sacramentos do Batismo, Unção dos Enfermos e na administração do Crisma, sacramento que é administrado pelo bispo.

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- Nesta missa nos padres junto com nosso bispo renovamos nossas promessas e recebemos os santos óleos que usamos na administração dos sacramentos. Mas celebramos a instituição do sacerdócio e a neste dia que Cristo faz sua última ceia e institui o sacramento da Eucaristia, em que perpetua sua presença e nos dá como alimento de nossa fé. Um dia festivo, mas de ação de graças por um Deus que nos dá essa lição de amor. - destaca Pe. Maxiliano Barreto - Coordenador da Pastoral da Comunicação.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Paixão de Paixão de Cristo em Varre Sai domingo

Fotos: Messias Correa
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Em Varre Sai O colégio Coração de Jesus apresenta neste domingo às 20 horas no pátio da Igreja Nossa Senhora Graças e São Sebastião o espetáculo da Paixão de Cristo. O projeto foi idealizado pela professora Margareth Vargas, que devido estar de licença maternidade, passou a função para as professoras Taiana Firmino e Beatriz Prevatto. No elenco formado por 40 atores, todos alunos do segundo segmento do ensino fundamental e ensino médio.
–  Assistir a transformação que a peça trás para a vida pessoal dos atores e de todos os envolvidos é emocionante. Quando ensaiamos estamos o tempo todo meditando a Paixão de Jesus. Este ano o aluno Lucas Correia do sétimo ano irá interpretar o papel de Jesus Cristo. O ator vive com grande intensidade cada cena, do Horto das Oliveiras ao calvário, trazendo consigo o mandamento deixado por Jesus – “Amai – vos uns aos outros como eu vos tenho amado”. (Taiana Firmino).
Beatriz Prevattto destaca a integração dos alunos e a arte na evangelização. E fala da reflexão da história de Cristo, seu sofrimento retratado com  emoção pelas crianças e a emoção que toca o coração de todos.
- Nós, alunos e professores, fazemos isso com muito carinho e vontade. Todos dedicam seu tempo pra vir depois da aula aqui no pátio da igreja ensaiar, todos os dias da semana, nesse sol quente que tá fazendo, sem reclamar. (Beatriz Prevatto)
Emoção é o sentimento de Graciana de Oliveira, mãe do Lucas que vai representar Cristo na representação teatral. E a preocupação e ao mesmo tempo responsabilidade de um papel tão importante, mas fala do orgulho e alegria.
- Quando o Lucas chegou a casa falando que ia fazer o papel de Jesus fiquei muito feliz, mas ao mesmo tempo, fiquei com receio dele não conseguir representar  direito. Ele é elétrico. Não para quieto. Mas ele falou que era para eu não se preocupar que ele sempre quis fazer esse papel e que ele iria dar conta. Estive conversando com as professoras Beatriz e a Taiana e elas me disseram que ele está indo muito bem. Que sabe até as falas dos outros personagens. Agora é segurar a ansiedade e esperar até domingo pra ver a apresentação do meu filho. Queria agradecer a Taiana e a Bia por ter acreditado e confiado esse papel ao meu filho! - disse  Graciana de Oliveira, mãe do Lucas



quinta-feira, 4 de abril de 2019

DOMINGO, 26 DE JULHO DE 2009

A IGREJA CATÓLICA E A DITADURA MILITAR NO BRASIL



O apoio da igreja católica aos militares em 1964, foi decisivo para a concretização do golpe de estado que levaria o país a uma ditadura de vinte anos. Se a Guerra Fria obrigou pessoas e entidades a escolher um lado, com a igreja católica, presumivelmente neutra, não foi diferente, ficou do lado das designações de Washington. A ambigüidade da igreja na época da Segunda Guerra Mundial, que foi acusada de apoiar e até a abençoar os exércitos nazistas, valeu-lhe a expulsão de todo o leste europeu com a chegada dos comunistas soviéticos, que libertaram os povos empobrecidos pela guerra do domínio nazista e na leva, do domínio secular da igreja. Temendo que o mesmo sucedesse na América Latina, a igreja católica combateu a ameaça comunista, incitando os seus fiéis a temê-los e repudia-los. Nas missas era comum padres acusar os comunistas de hereges e ateus inimigos da fé.
Ludibriados pelo sentimento anticomunista e pelo falso golpe que a esquerda preparava, segundo os golpistas de 1964, a igreja católica recebeu os militares de braços abertos, dom Paulo Evaristo Arns chegou a ir ao encontro das tropas do general Olimpio Mourão Filho, deflagrador do golpe, quando elas marchavam de Juiz de Fora rumo ao Rio de Janeiro. Em 31 de março, dom Paulo encontrou-se com as tropas golpistas em Pedro do Rio, Três Rios, oferecendo aos mineiros assistência religiosa. O encontro deixou o clérigo tranqüilo, com a simpatia de que não entraria no poder nem a anarquia, nem o comunismo.
Este apoio da igreja aos golpistas começou a enfraquecer tão logo perceberam o engodo que o país fora vítima, e a ditadura militar começou a mostrar o caráter repressivo e autoritário do regime. Dentro da igreja católica começou um movimento de repúdio à repressão, o envolvimento do clero com militantes resistentes ao regime, e a própria proteção do clero aos perseguidos e torturados. O próprio dom Paulo Evaristo Arns tornou-se um símbolo da defesa dos direitos humanos no Brasil, denunciando as torturas do regime. Também dom Hélder Câmara (foto) e dom Pedro Casaldáliga fizeram voz ativa contra a repressão. Diante da nova posição da igreja católica, a ditadura militar prendeu, torturou e matou padres. O banho de sangue estendeu-se aos clérigos. A Teologia da Libertação, que deu os primeiros passos em 1952, tornar-se-ia uma grande força no Brasil a partir de 1970. O apoio inicial da igreja ao golpe de 1964 deu a sua grande reviravolta quando a violência do regime matou e torturou quem lhe contestasse, desde então, a igreja católica no Brasil pendeu quase toda contra a ditadura militar.

A Igreja Católica e o Golpe Militar de 1964

Desde que se estabeleceu em Roma como instituição, que a igreja estendeu o seu poder por todos os reinos europeus. Conviveu lado a lado com as monarquias absolutistas, só enfraquecendo o seu poder com a chegada do protestantismo no século XVI. Aos poucos os estados tornaram-se laicos, separando-se definitivamente da igreja católica. Mas o maior golpe ao poder da instituição foi no fim da Segunda Guerra Mundial, quando os países do leste europeu foram libertados da opressão nazista pelos soviéticos, que neles estabeleceu regimes socialistas e expulsaram a igreja, considerada alienante e conivente com as atrocidades de regimes opressivos. Esta expulsão valeu a retratação de vários membros da igreja, que analisaram a sua atuação no leste europeu e o porquê de ser preterida aos comunistas.
Diante da Guerra Fria, o comunismo representava para a igreja católica uma forte ameaça diante da sua doutrina considerada alienante pelos engajados. A visão de que comunismo e ateísmo eram indissolúveis passou a fazer parte do imaginário popular brasileiro, incitado pelos padres em seus sermões dominicais. Alguns anos antes do golpe militar, subiu ao poder nos EUA John Kennedy, primeiro presidente católico daquele país. Esta condição religiosa de Kennedy fortaleceu a boa imagem deste lado da Guerra Fria diante da América Latina. Em 1961 os países católicos ricos criaram e financiaram o plano Caritas (caridade, em latim), que tinham como objetivo distribuir pela América Latina alimentos, esmolas e medicamentos. Implantado em quase todas as dioceses do Brasil, o Caritas também servia como doutrinador dos pobres que ajudava, incitando o repúdio total contra os perigos do “comunismo ateu”.

Nos fins de 1963, sob as bênçãos do presidente Kennedy, chegava ao Brasil o padre Patrick Peyton, um irlandês naturalizado estadunidense, conhecido como o padre das “estrelas”, por gostar de aparecer ao lado das celebridades de Hollywood. Padre Peyton foi preparado pela Agência Central de Inteligência (CIA) do serviço secreto norte-americano, promovendo no Brasil a Cruzada pelo Rosário.
em Família. A pregação de Patrick Peyton em seus concorridos encontros, atingiu em cheio milhares de famílias brasileiras. Essa pregação consistia em alertar aos brasileiros quanto aos perigos de um governo que não fosse como os dos EUA, e contra a ameaça comunista à família e à religião. No início de 1964 uma missa celebrada por padre Peyton foi o primeiro programa de televisão em rede a cobrir todo o país, tendo o suporte técnico feito em Washington. 


Nos meandros do golpe, agentes religiosos colaboraram decisivamente com os golpistas. Deflagrado o golpe, a igreja católica aplaudiu. Para garantir que os militares não sofressem reveses da esquerda, muitos clérigos atuaram como delatores. Participações contundentes de ativistas anticomunistas e da igreja estão registradas nas atuações de Antônio de Castro Mayer, bispo de Campos, e de Geraldo de Proença Sigaud, arcebispo de Diamantina.

Na marcha que recebeu os militares golpistas no Rio de Janeiro, em 2 de abril de 1964, mulheres representantes da tradicional família brasileira, seguindo o lema de Patrick Peyton (na foto com um quadro de Maria com o menino Jesus), “família que reza unida, permanece unida”, estenderam os seus rosários, assinalando com este gesto o papel que exercera a igreja católica na consolidação do novo regime ditatorial que se instalava no Brasil.


Núcleos Conservadores e Progressistas da Igreja

O apoio da igreja católica aos golpistas militares começou a esvair-se tão logo a truculência da caserna mostrou ao que veio. Mandatos foram cassados, assim como direitos civis de exercer o sufrágio, a liberdade de expressão, no mesmo caldeirão incluíram a violência e a tortura. A ditadura, ladeada por grande violência, estava estabelecida. Diante das atrocidades, a igreja deixou de ser uma aliada para transformar-se em feroz opositora ao regime militar.
Nos primeiros anos do regime militar, dois núcleos da igreja mostraram claramente as suas posições: os católicos conservadores e os católicos progressistas. Para os conservadores, o regime militar evitaria o “comunismo ateu”. Além dos comunistas, esse núcleo reacionário incluiu como inimigos o espiritismo, a maçonaria, a umbanda, o protestantismo e todas as idéias estabelecidas no Concílio do Vaticano II, por João XXIII. Muitos foram os clérigos delatores que surgiram com o núcleo.
O núcleo dos católicos progressistas começou a ser perseguidos pelo regime militar, o que desencadeou da parte deles um engajamento que os fez combater veementemente a ditadura. Destacaram-se como árduos defensores da liberdade e opositores à violência militar, dom Hélder Pessoa Câmara, em Pernambuco; dom Paulo Evaristo Arns, em São Paulo; e dom Pedro Casaldáliga, na região rural do Araguaia.


Torturado, Castrado e Assassinado


A grande tragédia que marcaria de vez inclinação da igreja católica à oposição à ditadura foi o assassínio do padre Antônio Henrique Pereira Neto em Pernambuco. Coordenador da Pastoral da Arquidiocese de Olinda e Recife, Antônio Henrique desenvolvia atividades contra os métodos de repressão usados pelo regime, ao lado do arcebispo Hélder Câmara, de quem era braço direito.
Em março de 1968 o estudante de 17 anos, Edson Luís de Lima e Souto, foi morto pelos militares no restaurante “Calabouço”, no centro do Rio de Janeiro, desencadeando revolta e protestos por todo o país. Padre Antônio Henrique celebrou uma missa em memória do estudante assassinado, tornando-se desde então, alvo da ira dos militares. No dia 26 de maio de 1969 o CCC (Comando de Caça aos Comunistas) seqüestrou, torturou e matou o padre. O corpo foi deixado em um matagal da cidade universitária do Recife. Padre Antônio Henrique estava pendurado pelos pés em um galho de árvore; trazia marcas brutais de tortura, como queimaduras de cigarro, castração da genitália, marcas de espancamento, cortes profundos em todas as partes do corpo e dois ferimentos de bala que indicavam a execução final.
Dom Hélder Câmara repudiou a violência da ditadura militar. Após divulgar um manifesto de apoio à ação católica operária no Recife, ficou proibido pelo regime de falar em público no Brasil. Silenciado no país, dom Hélder passou a aceitar convites para participar de conferências no exterior. Para que as palavras do religioso, ditas fora do país, aqui não chegassem, o governo proibiu qualquer menção de apoio da imprensa a ele. Durante anos, apesar de atuação intensa contra a ditadura, o nome de Hélder Câmara jamais foi mencionado pela mídia. Mesmo acusado pelos militares de demagogo e comunista, o religioso ficou conhecido como Peregrino da Paz e Irmão dos Pobres.
Diante da morte do padre Antônio Henrique, as relações da igreja católica com a ditadura militar deterioraram-se de vez, fazendo com que a primeira atuasse de forma decisiva contra o regime, combatendo-o veementemente até o fim.



A Ira da Ditadura Contra os Dominicanos



A ordem dos dominicanos foi a mais perseguida pela ditadura militar, seus integrantes eram considerados por demais progressistas e de cunho subversivo. Em 1965 chegou a ser cogitado a expulsão da ordem do Brasil. O cerco aos dominicanos passou a ser mais intenso quando o regime descobriu que havia uma ligação da ordem com Carlos Marighella, líder guerrilheiro, fundador do grupo armado Aliança Libertadora Nacional (ALN), considerado o maior inimigo da ditadura militar.
Carlos Alberto Libânio Christo (Frei Betto), Fernando de Brito, Ivo Lesbaupin, Ratton, Magno e Tito de Alencar Lima, eram dominicanos que colaboravam com diversas organizações políticas clandestinas que combatiam a ditadura militar. O apoio dos dominicanos incluía proteger perseguidos políticos de cair nas garras de torturadores quando presos, escondendo-os em lugares seguros, transportando-os para outras cidades ou mesmo para outro país.
Para proteger os perseguidos do regime, os dominicanos envolveram-se em perigosas operações. Frei Betto (foto) foi um dos que mais correu risco. Trabalhou como chefe de reportagem do
 jornal “Folha da Tarde”, do grupo Folhas, considerado um veículo de comunicação progressista. Em 1967 Frei Betto foi demitido ao lado de vários outros colegas, e a “Folha da Tarde”, sob a direção Antônio Aggio Junior, passou a ser porta-voz da ditadura. Ameaçado de ser preso, Frei Betto passou a viver na clandestinidade. Escondeu-se por algum tempo na casa de uma família estadunidense. Por fim conseguiu uma bolsa de estudos para a Alemanha, que lhe fez viver algum tempo no Seminário Cristo Rei, em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, onde tentava familiarizar-se com os hábitos alemães, bastantes comuns no sul do país. Durante este tempo, Frei Betto arriscou a vida ao aceitar a tarefa designada por Marighella, de ajudar perseguidos políticos a atravessar a fronteira do Brasil com o Uruguai. Preso, Frei Betto foi condenado a quatro anos de prisão. Após o fim do regime militar continuou a viver em São Paulo, a escrever e assessorar movimentos sociais.
Frei Fernando de Brito trabalhava na Livraria Duas Cidades, em São Paulo. O dominicano estava sob a vigilância da repressão desde 1 de abril de 1964, quando o jornal que editava “Brasil Urgente” saiu pela última vez com a manchete “O golpe está nas ruas”. Em 2 de novembro de 1969, Frei Fernando foi para o Rio de Janeiro para tratar de uma publicação com o secretário da Editora Vozes. Ao seu lado embarcou Frei Ivo, carioca que aproveitava a viagem para visitar a família. Poucas horas no Rio de Janeiro e os dominicanos foram presos pela repressão, sendo levados para o temível Centro de Informações da Marinha (Cenimar). Isolados, os religiosos foram torturados. Frei Fernando foi despido e pendurado no famoso pau-de-arara, sofrendo choques por todo o corpo, culminando com um fio elétrico sendo-lhe introduzido na uretra. O objetivo da tortura era descobrir o paradeiro de Marighella, considerado o inimigo número um do governo. Após horas de tortura, Fernando terminou por revelar a senha que possibilitava um encontro com Marighella. Feita a revelação, Fernando foi levado ao encontro de Frei Ivo, reconhecendo-o apenas pelas roupas, pois o amigo trazia o rosto deformado pela tortura. Levado para o Dops de São Paulo, Fernando descobriu que lhe fora poupado o rosto para que ele voltasse a trabalhar na Livraria Duas Cidades no dia 4 de novembro, e assim, atraísse Marighella para uma cilada. No fim da tarde Fernando recebeu um telefonema que dizia:
Ernesto pediu que vocês o encontrem na gráfica hoje às 20 horas.”
A senha era para um contacto com Marighella. Fernando pensou que a voz fosse de um dos homens que o interrogara no Dops, a fazer-lhe um teste, o frei confirmou com um “sim”. Mas a voz era mesmo do contacto de Marighella. Com o telefone grampeado, a conversa tinha sido gravada pela repressão. Poucas horas depois, os freis Fernando e Ivo foram obrigados a entrar no fusca azul que costumavam ir ao encontro de Marighella. Assim, forçadamente, os dominicanos participaram da emboscada que tirou para sempre das páginas da história do Brasil Carlos Marighella, morto por vários tiros na esquina da Rua Oscar Freire com a Alameda Casa Branca. Frei Fernando e Frei Ivo foram condenados a quatro anos de prisão. Com o fim da ditadura, Fernando passou a viver em Conde, Bahia, passando a trabalhar com a relação entre o cristianismo e as religiões africanas. Ivo deixou os dominicanos, passando a viver no Rio de Janeiro como professor de ciências políticas, casando-se e tendo dois filhos.
Outro envolvido com Marighela era Frei Tito, preso em São Paulo naquele fatídico novembro de 1969, e entregue ao temido delegado Sérgio Fleury. Na prisão sofreu todos os tipos de tortura, recebeu cutiladas, choques, foi sentado nu em uma cadeira de metal eletrificada e, com o chão molhado, a intensidade dos choques aumentava. Tito sofreu ainda, todas as ofensas religiosas, massacre sexual, queimaduras de cigarro, tapas simultâneos com as duas mãos nos ouvidos, pau-de-arara e pauladas. Condenado a quatro anos de prisão, Tito foi um dos 70 presos políticos trocados pelo embaixador suíço Bücher, seqüestrado por guerrilheiros em 1971. Deportado para o Chile, seguiu para a Europa. Mesmo depois de exilado em Paris, a receber total apoio dos dominicanos, Frei Tito jamais se recuperou emocionalmente, enforcar-se-ia aos 29 anos, em 10 de agosto de 1974, totalmente enlouquecido pelos traumas das torturas que sofrera.
Na fotografia acima, momento histórico do julgamento dos dominicanos, todos condenados a quatro anos de prisão. Da esquerda para a direita, Frei Fernando, Frei Betto, Frei Ivo e Frei Tito.



Prisões, Torturas, Humilhações e Mortes Dentro da Igreja



A ditadura militar chegou aos anos 1970 com o total repúdio da igreja católica, que se tornou grande opositora das suas atrocidades truculentas. A Teologia da Libertação explodiu pelo país, sendo os seus seguidores grandes opositores do regime militar.
Mas os embates entre a igreja católica e os ditadores começou bem antes. Um grande incidente acontecera em 1967, quando a repressão invadira a casa de dom Valdir Calheiros, bispo de Volta Redonda, seguida da prisão de um diácono francês e de seminaristas. Diante da truculência, Costa e Silva enviou o senador Daniel Krieger ao cardeal Avelar Brandão, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em missão de paz. Já no final de 1968 a relação entre a igreja e o regime militar estava combalida. No dia 1 de outubro daquele ano, o cardeal de São Paulo, Agnelo Rossi, em solidariedade aos sacerdotes presos, recusou a medalha da Ordem Nacional do Mérito, oferecida por Costa e Silva, causando constrangimento ao então presidente.
Ainda em novembro de 1969, outra truculência contra religiosos aconteceria com a prisão da freira Maurina Borges da Silveira, em Ribeirão Preto. Diretora do orfanato Lar Santana, a freira cedia uma sala para que se efetuasse a realização de reuniões de estudantes. A freira não sabia que eles pertenciam à clandestina Frente Armada de Libertação Nacional (FALN). Presa, foi vítima de tortura com espancamentos, choques e violência sexual. Houve comentários que a freira teria ficado grávida do torturador, o delegado Fleury. A freira desmentiu os boatos.
Outro grande opositor do regime militar foi o catalão dom Pedro Casaldáliga, que atuou energicamente a favor dos camponeses, dos índios e sem-terras do Araguaia. Corajosamente denunciou o autoritarismo da ditadura, sofrendo com isto perseguições e ameaças de morte. O governo chegou a pressionar o Vaticano para que retirasse Casaldáliga do Araguaia, mas o então papa João Paulo II não permitiu que a pressão vingasse. Em outubro de 1976, Casaldáliga e o jesuíta João Bosco Penido Burnier, missionário entre os posseiros de São Félix do Araguaia, Mato Grosso, foram ao povoado de Ribeirão Bonito participar da celebração da novena de Nossa Senhora Aparecida, celebrando a cerimônia principal. Ficaram sabendo que duas mulheres estavam a ser torturadas na delegacia local. Os dois tentaram interceder pelas mulheres, mas foram recebidos por policiais no pátio da delegacia; 
após breves minutos de diálogo, um dos policiais agrediu com um soco e uma coronhada o padre João Bosco Burnier, terminando com um tiro fatal no padre. Considerado um protetor dos pobres, o jesuíta foi pranteado por todos. Após a missa de sétimo dia do padre, o povo seguiu em procissão até a delegacia, libertou os presos e destruiu o prédio. No local de martírio do padre Burnier, foi erguido um santuário.
Outro que sofreu perseguição dos militares foi o bispo de Nova Iguaçu, dom Adriano Hipólito, tido como um grande defensor dos perseguidos políticos de toda a Baixada Fluminense. Amigo dos oprimidos e amado pelo povo, começou a incomodar a ditadura, tanto que, em 22 de setembro de 1976, foi seqüestrado por militares, que o espancou, pintando-lhe o corpo de vermelho, finalmente foi deixando nu no meio da noite, em um local ermo. Teve o carro explodido por uma bomba quando se encontrava à porta da CNBB, no Rio de Janeiro. Uma outra bomba foi detonada na catedral de Nova Iguaçu, destruindo o altar. Mas nada intimidou dom Adriano. Fez alianças com vários partidos de esquerda, denunciaria grupos de extermínios na Baixada Fluminense. Só parou com a luta em defesa do povo em 10 de agosto de 1996, quando morreu, já vivendo ao vento da democracia.



Dom Paulo Evaristo Arns: “Brasil Nunca Mais



Durante a ditadura, dom Paulo Evaristo Arns tornou-se o maior defensor dos direitos humanos
 no Brasil, mesmo sendo um dos que recebeu o golpe militar de braços abertos em 1964. Contrariando os militares, dom Paulo Evaristo Arns rezou missa pelo estudante Alexandre Vanucchi Leme, morto pela ditadura em 1973.
Em 1975 foi morto sob tortura, o jornalista Vladimir Herzog. A ditadura ainda tentou simular um suicídio, divulgando um falso laudo sobre a morte do jornalista. A resposta da sociedade brasileira foi um culto ecumênico realizado na Catedral da Sé, em São Paulo, celebrado por dom Paulo Evaristo Arns, pelo rabino Henry Sobel e pelo reverendo Jaime Wright. As religiões uniam-se, pela primeira vez, contra as atrocidades da ditadura militar.
Dom Paulo Evaristo Arns é um dos autores do dossiê que documenta prisões, torturas e desaparecimentos no país: “Brasil, Nunca Mais”.
Se a tortura era veemente negada pelo regime militar, com a morte de Vladimir Herzog tornou-se impossível escondê-la. Uma vez revelada e provada a sua existência, era mais difícil sumir com os presos. Através das pastorais, a igreja passou a desenvolver trabalhos com os presos e a apoiar as suas famílias; organizava visitas freqüentes aos presos políticos, como forma de alerta aos torturadores, como se dissesse: “sabemos que essa pessoa existe e que está presa, cuide para que ela não desapareça”. Dom Paulo Evaristo Arns foi enérgico com esta postura, incentivando a mesma ação de proteção aos direitos humanos por todas as igrejas do Brasil. Assim a igreja católica, forte aliada dos golpistas de 1964, passou a repudiar a violência, a tortura e o próprio regime militar. Sua oposição à ditadura foi decisiva para a sua queda e, para a proteção de várias vidas dentro dos calabouços. Lutar contra a repressão, foi uma forma da igreja católica redimir-se diante deste período negro da história do Brasil.


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Memória da Ditadura Militar no Brasil

A Igreja Católica e o golpe militar no Brasil


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Miguel do Rosário
www.impinhoecheiroso.com
Parece até um filme de Glauber Rocha, mas é a realidade. Ou melhor, é um filme de Glauber Rocha. As recentes provas de que Igreja, latifúndio, udenistas de classe média, militares e, claro, barões da mídia, uniram-se em prol do golpe de Estado, ajuda a explicar a força do regime de exceção.
Semana passada, divulgamos o vídeo do Instituto João Goulart onde um militar hoje aposentado afirma, com todas as letras, que o general Amaury Kruel traiu Jango por seis malas de dólares.
A própria Globo, depois de apanhar nas ruas, já admitiu que foi golpista.
A informação, via Carta Capital, de que uma importante autoridade do Vaticano, o então arcebispo Dom Eugênio Câmara, prestou serviços à ditadura mostra o quão perigoso e nocivo é misturar religião e política.
Ambos devem estar bem separados, como manda o espírito republicano laico de nossa Constituição (apesar da citação de Deus no preâmbulo).
***
Marsílea Gombata
Em 1976, sob a égide do Ato Institucional nº 5 e cercada por denúncias de torturas, prisões, desaparecimentos e mortes de presos políticos, como a do jornalista Vladimir Herzog, a ditadura começava a ruir em meio à transição “lenta, gradual e segura” anunciada pelo general Ernesto Geisel. A Igreja Católica, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cobrava do governo informações e esclarecimentos sobre os abusos e condenava o caráter arbitrário do regime militar.
Acuados, os generais buscavam minar o ímpeto das lideranças católicas dentro da própria CNBB. Contaram, para isso, com uma das figuras mais influentes do clero: o cardeal e então arcebispo do Rio de Janeiro, dom Eugênio Salles. É o que revelam documentos oficiais obtidos por CartaCapital junto ao Arquivo Nacional em Brasília. Em relatório de 14 de março de 1976, o 1º Exército do Rio de Janeiro relata ao Serviço Nacional de Informações (SNI) como o cardeal conseguiu conter os esforços da própria CNBB de lançar uma campanha contra a repressão. Ao se referir ao “clero católico”, o documento dizia: “A CNBB pretendia fazer declarações sobre as atuais prisões, envolvendo elementos do PCB, no RJ/RJ. Dom Eugênio Salles conseguiu esvaziar o movimento da CNBB. Irah a Roma ET, no seu retorno ao país, farah declarações favoráveis”.
A evidência fica clara em outro documento do SNI, também parte do acervo do Arquivo Nacional. A carta da CNBB, endereçada ao general Ernesto Geisel em 24 de setembro de 1975, pedia esclarecimentos sobre o paradeiro de presos políticos. Preocupada em obter esclarecimentos “alvissareiros ou trágicos, mas definitivos” sobre casos de militantes desaparecidos, a entidade dizia ao então ditador: “Permanece, no entanto, um determinado número de desaparecimentos para os quais ainda não se obteve informações satisfatórias. […] Até esta data, no entanto, os esclarecimentos não foram satisfatórios. Isto é motivo de desespero para as famílias dos desaparecidos e de angústia para nós pastores”. O então presidente da CNBB, Aloísio Lorscheider, termina a carta com uma súplica: “Gostaríamos de receber melhores esclarecimentos, bem como qualquer retificação, sobre imprecisão dos dados ou fatos aí contidos”.
Diante da pressão, os militares usavam dom Eugênio – arcebispo primaz do Brasil desde 1968 – como uma espécie de garoto de recados, de acordo com o documento do I Exército do Rio de Janeiro ao SNI, de 1976. À época da prisão de jornalistas ligados ao PCB, como Oscar Maurício de Lima Azêdo e Luiz Paulo Machado, foram coletados depoimentos de outros profissionais de imprensa, como Fichel Davit Chargel e Ancelmo Gois, por meio dos quais seriam reveladas operações do PCB no Rio. Com tais informações nas mãos, os militares pressionaram o fotógrafo Luiz Paulo Machado para que redigisse uma carta de repúdio ao comunismo, a fim de demonstrar arrependimento pela militância. A existência da carta de próprio punho, ressalta o documento oficial, era para ser mantida sob “alta compartimentação” (sigilo).
Apesar da carta escrita na madrugada de 13 para 14 de março, os militares queriam mais. Pediram, como relata o documento da Operação Grande-Rio – que visava “buscar intimidar ou desencorajar livre manifestação subversiva VG especialmente por meio de prisões de subversivos selecionadas por suas atuações destacadas” –, que dom Eugênio conversasse com a mulher do fotógrafo, Elaine Cintra Machado, para sugerir procurar o comandante do I Exército e obter informações sobre o detido. Era de extrema importância, no entanto, que o arcebispo deixasse transparecer o mínimo sobre a relação próxima que tinha com os militares. “Dom Eugênio Salles, por solicitação do CMT do I EX, fazendo transparecer ser iniciativa sua, aconselhou a Elaine que procurasse o CMT do I EX, dando a crer, também que soh o Exército poderia cooperar com ela.”
O objetivo seria pressioná-la, a fim de conseguir “o apoio ET a cooperação de Elaine”, como sugere o relatório sobre os procedimentos a serem tomados com a militante denunciada pelo marido como “responsável pelo movimento financeiro do PCB, no RJ”. A intenção era “desencadear de imediato uma ação psicológica sobre a esposa de Luiz Paulo Machado, Elaine Cintra Machado, com base na “carta-repúdio”.
[…]
Discurso. Líder ecumênico metodista e coordenador do Grupo de Trabalho da Comissão Nacional da Verdade que investiga o papel das igrejas durante a ditadura, Anivaldo Padilha reconhece que a figura de dom Eugênio é controversa: além de ter atuado a mando dos militares, chegou a negar ajuda a militantes, inclusive os católicos. “Dos pronunciamentos dele, não me lembro de nenhum explicitamente apoiando a ditadura, mas lembro de muitos outros criticando setores de oposição, especialmente a esquerda.”
Da mesma visão compartilha dom Angélico, bispo auxiliar do cardeal dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo cuja trajetória foi marcada pela proteção aos militantes e que, inclusive, mais de uma vez esteve com o então ministro-chefe da Casa Civil, Golbery do Couto e Silva, para lhe entregar listas com nomes de desaparecidos. “Do que conheço a respeito da atuação do cardeal dom Eugênio, a não ser em casos isolados, ele realmente não se confrontou com a ditadura”, avalia.
Não são poucos os casos nos quais dom Eugênio foi chamado a ajudar e a fazer frente ao regime militar e não deu ouvidos. Um dos mais famosos é o da estilista Zuzu Angel, cujo filho Stuart foi torturado e morto pelo Serviço de Inteligência da Aeronáutica. Ao procurar dom Eugênio, bateu com a cara na porta. Sua filha, a colunista social Hildegard Angel, em mais de uma ocasião disse que o cardeal “fechou os olhos às maldades cometidas durante a ditadura, fechando seus ouvidos e os portões do Sumaré aos familiares dos jovens ditos ‘subversivos’ que lá iam levar suas súplicas, como fez com minha mãe”.
A omissão, o silêncio e a compra das versões dadas pelos militares para acobertar torturas e mortes nas prisões por dom Eugênio acabavam sendo respaldados pela mídia, com quem o cardeal mantinha ótimas relações – vale lembrar que ele escrevia artigos para O Globo e Jornal do Brasil com certa regularidade.
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Assessor de imprensa de dom Eugênio por mais de 40 anos, Adionel Carlos da Cunha discorda. “Desconheço completamente qualquer ação do dom Eugênio nesse sentido (de colaboração com os militares). Pelo contrário, a ação dele foi de conseguir salvar mais de 5 mil militantes”, conta.
Trajetória. Um dos nomes cogitados para suceder ao papa João Paulo 1º, em 1978, o arcebispo nascido em Acari, no Rio Grande do Norte, em 8 de novembro de 1920, foi próximo do Vaticano como nenhum outro cardeal brasileiro. Ao longo de seus quase 60 anos de episcopado e mais de 40 de cardinalato, nomeou 22 bispos e 215 padres. Sempre foi um ferrenho opositor à Teologia da Libertação.
Para dom Angélico, a posição de dom Eugênio era clara: “Não era uma postura dúbia. Basta analisar historicamente”, disse, ao lembrar que a ditadura foi construída pelas “classes conservadoras, os grandes interesses econômicos e o apoio da CIA”. “Vivíamos em meio à polarização indevida entre o mundo livre e o mundo comunista. E muitos na Igreja temiam essa onda comunista.”