Numa festa
inter-religiosa e culturalmente rica da juventude, o Papa Francisco pronunciou
o segundo discurso do dia em Maputo, em Moçambique, nesta quinta-feira (5). Os
jovens foram a expressão da paz e da reconciliação do país, através de cantos,
apresentações artísticas e tradições religiosas, sempre encorajados pelo
Pontífice que incentivou a não se resignar diante das provações e ter cautela
com a ansiedade que pode criar barreiras para realizar os sonhos.
O Papa Francisco, no seu
segundo discurso oficial em Maputo nesta quinta-feira (5), encontrou os jovens
no Pavilhão do Clube de Desportos do Maxaquene, conhecido como Maxaca - uma
sociedade com tradição no futebol, tanto que já ganhou cinco títulos nacionais.
Do esporte, porém, hoje o espaço acolheu mais de 4 mil jovens cristãos,
muçulmanos e hindus para um grande encontro inter-religioso com o Pontífice.
Durante cerca de uma hora
intensa com a juventude de Moçambique, o Papa conseguiu conhecer um pouco da
realidade local das diferentes confissões religiosas que se apresentaram,
através da arte do canto e de coreografias especiais, demonstrando diferentes
temas e motivos de preocupação dos jovens do país. Um hino comum às
denominações religiosas também foi interpretado na ocasião que precedeu o
discurso do Pontífice.
Jovens: vocês são
importantes e precisam saber disso!
“ O que pode haver de
mais importante para um pastor do que estar com os seus? O que há de mais importante
para um pastor do que encontrar-se com os seus jovens? Vocês são importantes!
Precisam saber disso, precisam acreditar nisso: vocês são importantes! Porque
não são apenas o futuro de Moçambique ou da Igreja e da humanidade; vocês são o
presente! Com tudo o que são e fazem, já estão contribuindo para ele com o
melhor que hoje podem dar. Sem o entusiasmo de vocês, dos cânticos, da alegria
de viver, o que seria desta terra? Vê-los cantar, sorrir, dançar, no meio de
todas as dificuldades que vivem – como justamente nos contava você – é o melhor
sinal de que vocês, jovens, são a alegria desta terra, a alegria de hoje. ”
O Papa iniciou o discurso
enaltecendo a expressão tão autêntica da alegria que caracteriza o povo de
Moçambique. É uma “alegria que reconcilia e se torna o melhor antídoto capaz de
desmentir todos aqueles que querem dividir, fragmentar ou contrapor. Como faz
falta, em algumas regiões do mundo, a alegria de viver vocês!”, sublinhou
Francisco.
A presença das diferentes
confissões religiosas no local também elogiada pelo Pontífice, demonstrando a
união familiar através do “desafio da paz”, da esperança e da reconciliação.
Com essa experiência, disse ele, é possível perceber que “todos somos
necessários: com as nossas diferenças, mas necessários”.
“ Vocês, jovens,
caminham com dois pés como os adultos, mas, ao contrário dos adultos que os
mantêm paralelos, vocês colocam um atrás do outro, pronto a arrancar, a partir.
Vocês têm tanta força, são capazes de olhar com tanta esperança! São uma
promessa de vida, que traz em si um certo grau de tenacidade (cf. Francisco,
Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 139), que não devem perder nem deixar
que lhe roubem. ”
As inimigas da esperança:
resignação e ansiedade
O Papa, então, procurou
responder a duas perguntas feitas pelos jovens, em questões interligadas, sobre
como realizar os sonhos da juventude e como contribuir para solucionar os
problemas que afligem o país. A indicação do Pontífice veio do próprio caminho
de riqueza cultural apresentado pelos jovens, através da arte, uma expressão
“de parte dos sonhos e realidades”, sempre regada de esperança, mas também de
ilusões. Além disso, o Papa voltou a insistir com os jovens para não deixar que
“roubem a sua alegria”, para não deixar de cantar e se expressar conforme as
tradições de casa.
Francisco também alertou
para ter cautela com “duas atitudes que matam os sonhos e a esperança: a
resignação e a ansiedade”.
“São grandes inimigas da
vida, porque normalmente nos impelem por um caminho fácil, mas de derrota; e a
porta que pedem para passar é muito cara… Paga-se com a própria felicidade e
até com a própria vida. Quantas promessas de felicidade vazias que acabam por
mutilar vidas! Certamente conhecem amigos, conhecidos – ou pode mesmo ter
acontecido com vocês – que, em momentos difíceis, dolorosos, quando parece que
tudo cai em cima de vocês, ficam prostrados na resignação. É preciso estar
muito atento, porque essa atitude «faz com que encaminhe pela estrada errada.
Quando tudo parece estar parado e estagnante, quando os problemas pessoais nos
preocupam, as dificuldades sociais não encontram as devidas respostas, não é
bom dar-se por vencido» (Ibid., 141).”
A inspiração do esporte:
Eusébio da Silva e Maria Mutola
E para dar um exemplo de
inspiração em pleno tempo do futebol, o Papa recordou o jogador Eusébio da
Silva, o “pantera negra”, que começou a carreira no clube de Maputo. O atleta
não se resignou diante de graves dificuldades econômicas da família e da morte
prematura do pai. O futebol o ajudou a perseverar, disse Francisco, “chegando a
marcar 77 gols para o Maxaquene!”
O Pontífice então fez a
analogia do jogo em equipe para falar da importância de se empenhar pelo país
com a tática da união e independentemente daquilo que diferencia as pessoas.
“Como é importante não
esquecer que «a inimizade social destrói. E uma família se destrói pela
inimizade. Um país se destrói pela inimizade. O mundo se destrói pela
inimizade. E a inimizade maior é a guerra. E hoje vemos que o mundo está se
destruindo pela guerra porque são incapazes de sentar e falar. Sejam capazes de
criar a amizade social! Não é fácil, sempre é preciso renunciar a qualquer
coisa, é preciso negociar, mas, se o fizermos pensando no bem de todos, podemos
fazer a experiência maravilhosa de deixar de lado as diferenças para lutar
juntos por um objetivo comum. Quando se consegue encontrar pontos coincidentes
no meio de tantas divergências e, com esforço artesanal e por vezes fadigoso,
lançar pontes, construir uma paz que seja boa para todos, isso é o milagre da
cultura do encontro» (Ibid., 169).”
O Papa lembrou, então, o
provérbio africano conhecido e citado mundialmente para “sonhar junto”, que
diz: «Se quiser chegar depressa, caminha sozinho; se quiser chegar longe, vai
acompanhado». Mas sem que a ansiedade seja inimiga dos sonhos da juventude por
um país melhor, alertou o Papa, porque eles são conquistados com “esperança,
paciência e determinação, renunciando às pressas”.
O outro exemplo do
esporte citado pelo Papa veio do testemunho de Maria Mutola, que aprendeu a
perseverar, apesar de perder a medalha de ouro nos três primeiros Jogos
Olímpicos que disputou. O tão sonhado título dourado veio na quarta tentativa,
quando a atleta dos 800
metros alcançou venceu nas Olimpíadas de Sidney. “A
ansiedade não a deixou absorta em si mesma”, ao conseguir nove títulos
mundiais”, comentou Francisco.
A importância dos idosos
e da Casa Comum
O Papa ainda aconselhou a
não esquecer do apoio dos idosos, que podem ajudar a realizar sonhos sem que “o
primeiro vento da dificuldade” venha a impedir. Escutar as pessoas mais
experientes, valorizando as tradições e fazendo a própria síntese, como
aconteceu com a música, o ritmo tradicional de Moçambique: da marrabenta nasceu
o pandza, com toque moderno.
O comprometimento com o
cuidado da Casa Comum também foi lembrado pelo Papa, num país que tamanha
beleza natural, mas que também já sofreu com o embate de dois ciclones. O
desafio de proteger o meio ambiente é um forma de permanecer unidos para ser
“artesãos da mudança tão necessária”.
O poder da mão estendida
e da amizade ao país
Dessa forma explicativa,
Francisco procurou encorajar os jovens a encontrar novos caminhos de paz,
liberdade, entusiasmo e criatividade, e “com o gosto da solidariedade”, para
responder às provações e problemas vividos no país. “Grande é o poder da mão
estendida e da amizade”, acrescentou o Papa, para que “a solidariedade cresça
entre vocês e se torne na melhor arma para transformar a história”. E Francisco
finalizou o discurso lembrando os jovens que não esqueçam o quanto Jesus os
ama:
“ Este amor de Deus é
simples, quase silencioso, discreto: não esmaga, nem se impõe; não é um amor
estridente nem exibicionista; é um «amor feito de liberdade e para a liberdade,
amor que cura e eleva. É o amor do Senhor que se entende mais de levantamentos
que de quedas, mais de reconciliação que de proibições, mais de dar nova
oportunidade que de condenar, mais de futuro que de passado» (Ibid., 116). Eu
sei que vocês acreditam nesse amor que torna possível a reconciliação; porque
acreditam nesse amor, tenho a certeza de que vocês têm esperança e que não
deixam de percorrer com alegria os caminhos da paz. ”
Andressa
Collet
www.vaticannews.va
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